quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Voilá!!!


Era quase oito horas da noite, mas ainda bastante claro, quando o metrô começou a cruzar o subúrbio de Paris. E era muito bonito. O vagão estava cheio, e todas as pessoas, tanto as que estavam sentadas como as que estavam de pé, sabiam que eu tinha acabado de chegar à cidade!... Não era pela mochila, mas pela curiosidade de viajante deslumbrado que não conseguia manter a cabeça parada, que olhava para fora com a avidez de quem nunca viu... E era só um arrabalde, mas era bonito. Foi então que o metrô mergulhou num túnel, e o espetáculo foi interrompido. Tanto melhor. Do subúrbio eu já podia constatar que Paris era (é) realmente linda, e provocante – se mostra e se esconde, até que: voilá!...



Cheguei à estação do Odéon, vexado. Peguei um mapa, procurei a escadaria que dava acesso à superfície e fui!... Subi de cabeça baixa, com os olhos fitos nos degraus, o coração disparado, expectante, até que levantando-os de repente, olhei. Pareceu-me que recebia a beleza da cidade inteira no peito!... Fiquei pálido, o sangue todo refluiu ao coração, donde não saiu uma única palavra. Era bonito demais! A mão tremia, não sei se de frio ou comoção, e tive que me encostar a um banco - transe de fadiga e deslumbre. Estava no coração da Cidade Luz, que, naturalmente, fica no lado esquerdo do rio Sena: a Rive Gauche! Era uma página de Balzac que já tinha lido vezes demais para me surpreender, mas agora, como era real, eu estava absolutamente surpreso. Como Paris guarda bem seu fascínio apesar das descrições, das pinturas, das fotografias, dos filmes, das canções, e com que violenta exuberância essa cidade existe!... E eu estava lá.


Era uma calçada do Boulevard Saint-German, um dos mais famosos da França, era o primeiro passo naquela etapa que era também a primeira da minha peregrinação. Por isso caminhei devagar, e mais devagar ainda olhei em volta para me situar e achar o meu hotel. Não foi difícil. Proust dizia que as calçadas do Saint German des-Pré que cruzam o Odéon são constituídas quase todas de grandes maisons contíguas, cujo charme monótono é de súbito interrompido por algum sinistro pardieiro, testemunha histórica ou sórdido remanescente dos tempos em que aqueles quartiers eram ainda mal-afamados. Assim era a residência da cortesã Odete, personagem de Proust, e assim era o Petit Trainon, meu hotel!

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