sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Guia do Mochileiro da Via Láctea

Desde muito cedo, quando soube de pessoas que colocavam mochilas nas costas para se aventurar numa travessia traçada por estrelas, acreditei ouvir uma lenda. Os relatos que lia nos livros de Erasmo de Rotterdam, de Marguerite Youcenar e Paulo Coelho acerca de um caminho que cruzava não só o espaço, mas também o tempo, eram demasiado fabulosos para meu ceticismo adolescente. E, no entanto, o caminho era real... E, no entanto, eu queria percorrê-lo. Desde então olhei o céu para aprender o itinerário, e, mesmo sem saber, exatamente, onde começava ou terminava aquela imensa Via, confiei no antigo adágio monástico que diz “quem conhece a meta, também conhece o caminho!” Porque o caminho é como a vida, basta apenas começar...
Me chamaste para caminhar na vida contigo,

decidi para sempre seguir-te,

e não voltar atrás.

 Me puseste um brasa no peito

e uma flecha na alma,

é difícil agora viver sem lembrar-me de ti...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A Viagem Sagrada

No livro dos Gênesis, Deus diz a Abrão: - "Sai da tua terra, do meio dos teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que Eu te mostrar. (Gn. 12,1)"... Assim, desde sempre, a peregrinação tem sido uma viagem sagrada rumo à Transcendência; e o peregrino, criatura nostálgica dos céus, é aquele que viaja rumo a um lugar sempre remoto, como um vagabundo do infinito, que a cada instante de sua caminhada faz perguntas a si próprio e a Deus, sem jamais por limites à ânsia de suas interrogações!... Para onde vou? De onde vim?... É a esperança de uma resposta que nos impele a caminhar, quer seja no sentido de um começo, de um fim, ou de ambos – pois como Ulisses, cuja Odisséia também é uma peregrinação, compreendemos que toda viagem termina numa volta ao lar, ao princípio, à origem!... Peregrinar, portanto, é um retorno, uma reviravolta, uma “conversão”. É a exteriorização simbólica de uma viagem interior, e a viagem interior é a interpolação dos sentidos e dos sinais dessa peregrinação real. Pode-se fazer uma sem a outra. O melhor, porém, é fazer ambas. Abrão, amigo de Deus, tinha 75 anos quando encarou a aventura divina. E fez isso porque sabia que peregrinar é antes de tudo um ato de fé - dessa mesma Fé que nos desafia a aceitar o Invisível como Realidade e o Desconhecido como Caminho.

O quando é agora... A Galícia é o onde!