domingo, 12 de setembro de 2010

A Bagagem

A peregrinação é, entre outras coisas, também um mochilão. Entre parênteses: mochilão é um eufemismo de conotação aventureira utilizado para justificar viagens feitas em condições quase precárias, aliás, limitadas, ou melhor, mínimas para o conforto de um turista comum. Isso não significa, necessariamente, um orçamento apertado – às vezes sim, mas não é o meu caso. Mochilar (já existe o verbo!) é para mim uma contingência decorrente da peregrinação – a propósito, ocorreu-me agora que o peregrino é o ancestral direto do mochileiro – pois, desde os primórdios, só se peregrina com nada mais do que um mochila nas costas, leve na medida do possível, portando o básico do básico. Quanto a isso existe toda uma diversidade de regras, recomendações e instruções que, como todo bom conjunto de leis, visa o bem-estar do indivíduo, sobretudo concernente a sua saúde física e emocional. Não são poucos os percalços e contratempos de quem ousa uma travessia de mais de 800 km a pé; logo, uma bagagem adequada, sem nada de mais ou de menos, faz toda diferença quanto ao sucesso desta empreitada. E eu conheço bem o que se deve ou não carregar, fui devidamente avisado, mas reconheço que não pude acatar todos os avisos.

O fato é que me preparei para uma peregrinação mais extensa, tanto no tempo quanto no espaço, e isso implicou numa bagagem um pouco diferenciada. Não me acusem de vaidade, mas a verdade é que não dá para passar 10 dias em Paris usando apenas roupas de fleece e taktel. Tenho uma amiga que considera a coisa mais ridícula do mundo ver um nerd com roupas de safári passeando pelas capitais européias. Não pretendo pagar esse mico. E também não vou ficar zanzando entre aeroportos e estações de trem com uma mochila de trekking, convencionalmente leve, porém menos resistente. Optei então pelo meio termo, uma mochila cargueira Quantum 55+10, na qual, além da indumentária recomendada, cometerei o atrevimento de levar uma simples calça jeans (proscrita devido o peso). Eis o meu pecado!... Mas não é tudo. Há ainda uma mochila de ataque, filhote da cargueira que, por isso mesmo, vem atrelada a ela, e é onde ficará meu netbook (outra extravagância!). Já sei: arcarei com as conseqüências. Que assim seja, I don’t care!... É mais fácil, aliás, mais humanamente possível desfazer-se do excesso do que fazer-se na escassez. Tirar coisas do nada, ex-nihilo, só Deus pode!... Lembra daquele provérbio que diz vão-se os anéis e ficam os dedos? Então, muito pior é quando sequer tem dedos para perder anéis. Ultreya!

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